Pode uma indústria tão competitiva agir de forma coletiva?

Papel & Caneta
4 min readAug 20, 2015

Imaginar que uma única agência ou apenas um líder criativo vai apontar como será o futuro é uma tremenda bobagem. Reflete não somente um olhar individualista, mas também de alguma forma nada mais do que o próprio ego. Afinal, se tem uma coisa que o mundo de hoje nos ensina é que o futuro está surgindo através de movimentos onde pessoas de diferentes lugares se conectam e fazem mudanças acontecerem.

Mas agora, pare e pense, e quanto aos VPs, CCOs, CEOs e presidentes de agências, como eles estão agindo para inventar o amanhã?

Vamos começar pensando sobre o Festival de Cannes. Todos os anos milhares de líderes se reúnem no Palais para conversar e se inspirar sobre diferentes temas que estão acontecendo ao redor do mundo. E isso é bem legal. Mostra que existe um grande momento de união na indústria criativa.

Porém, se pararmos para pensar, isso acontece apenas durante uma semana no ano. Então o que eles tem feito quando não estão em Cannes?

Cada um volta para sua própria rotina, seus clientes e, consequentemente, seus prêmios. Cada agência atuando dentro do seu próprio universo. Agindo de forma individual ao mesmo tempo em que todas as suas campanhas e estratégias estão dizendo: Precisamos engajar pessoas. Vamos conectar marcas para fazer o mundo ser um lugar melhor.

A conclusão é que, em um mundo onde marcas são construídas para serem menos controladoras e mais coletivas, open-minded e generosas, muitas agências e líderes ainda estão focados em seu dia a dia. Ao seu próprio sucesso, ao seu perfil no Linkedin, e ao seu desejo de mudança que pode até soar coletivo, mas que na verdade ainda é guiado por uma busca essencialmente individual: ser melhor que o outro.

E é nesse momento que surgem pessoas que abrem portas por novos caminhos. Líderes que nos mostram que agências podem ir além do formato já esperado e conhecido. Profissionais como a Sarah Watson, CSO da BBH Nova York, que mesmo em uma rotina tão acelerada entre ser mãe, esposa e Chief Strategy Officer de uma das maiores agências do mundo, ainda encontra tempo para dar vida ao Beautiful Minds, iniciativa sem fins lucrativos da BBH em parceria com o Google que conecta top planners de diferentes agências de NY para que eles possam se unir e ajudar jovens planners.

Beautiful Minds 2015

Ainda tem também o John Boiler, fundador e CEO da 72andSunny, que em busca de maneiras para ajudar jovens a se tornarem mais experimentais criou o 72U, programa de três meses que recebe criativos de diferentes partes do mundo para que juntos eles possam explorar a interseção entre arte, cultura, tecnologia e story-telling através de uma série de atividades, que vão desde a criação de um documentário, um aplicativo social e até mesmo um parque pop-up em Venice Beach.

A 72andSunny foi a única agência do mundo escolhida este ano para estar presente na lista das 50 empresas mais inovadoras do planeta segundo a Fast Company. Além disso, já foi eleita a agência do ano não só pela AdWeek, mas também pela Advertising Age.

72U Los Angeles
Musical Poster Demo w. RAC

É claro que alguns podem dizer que falta tempo. E Ok. Tempo realmente é algo desafiador, especialmente nesta indústria em que a maioria dos prazos é para ontem.

Mas a minha dúvida é: falta tempo ou espírito de união? Falta tempo ou vontade de reinventar o próprio modelo comercial e de operação? Falta tempo ou coragem para olhar para si mesmo e descobrir que um novo amanhã pode surgir com menos competitividade e mais generosidade?

É por isso que agora eu lhe pergunto: será que em breve iremos agir da mesma forma que marcas e clientes estão sendo hoje cobrados por nós? E você, enquanto líder, o que tem feito para transformar sua criatividade em algo não apenas relevante na sua carreira, seu time e seus clientes, mas também na vida das pessoas que não estão à sua volta? Já pensou o quanto seria surpreendente se agências, você e outros líderes pudessem se conectar para iluminar um novo caminho?

Tome um café e pense um pouco sobre isso. Muitas vezes a mudança que a gente espera do mundo precisa começar a partir de nós mesmos.

-A

André Chaves tem 26 anos e desde 2013 é conector no Papel&Caneta.org, projeto colaborativo que vem conectando líderes transformadores de diferentes agências em 12 cidades do mundo para que todos possam inspirar uns aos outros e trabalhar juntos para fazer mudanças positivas acontecerem.

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Papel & Caneta is a nonprofit collective consisting of leading creatives who work with activists to create empathy for overlooked or unfairly judged communities